17 de out. de 2006

Cream Cracker

A sociedade está cada vez mais insegura. As mulheres quando se vestem perguntam a - em média - dezoito pessoas se a roupa caiu bem, se não ficaram muito gordas, ou despeitadas. Daqui uns dias vão estar requisitando Certidão Negativa de Discrepância de Vestuário (CNDV), registrada em cartório, com firma reconhecida de quinze pessoas, sendo 40% do ramo da moda. Estilistas, modelos, fotógrafos. Só não imagino que homem irá observar uma mulher, no decorrer de uma noite badalada por exemplo, e comentar:
- Olha lá, João... como se veste mal aquela criatura!
- É mesmo, Pedro, eu ia até dar uma investida nela, mas ela não sabe nem combinar os sapatos com a bolsa! Desisto.
E no âmbito da criminalidade? Se um estranho te dá um chiclete, "não come, tá envenenado!". Se alguém te liga e pergunta seu nome, "por que quer saber?! Quer falar com quem? Não sabe pra onde ligou, não?". Se alguém te joga farol alto, "corre, é seqüestro relâmpago". E por falar em "SEQÜESTRO RELÂMPAGO", quem terá sido o infeliz a inventar esse nome? De certo nunca teve a mãe seqüestrada pra definir três, cinco, oito, quinze horas como "relâmpago". A não ser que tivessem seqüestrado sua sogra, aí sim, vinte horas depois o cidadão se vê indignado, "Nossa, Dona Francisca, mas foi um seqüestro relâmpago, hein?"
Não sei se iria pegar, mas o nome correto deveria ser "Seqüestro Ultra Mega Intenso", vulgo S.U.M.I. Sugestivo, não? Enquanto nos seqüestros normais existe a possibilidade de causar na vítima a Síndrome de Estocolmo, que é responsável por criar um "sentimento afetivo" da vítima pelo criminoso (pra quem não sabia disso, é necessário pesquisar mais no Google®), no S.U.M.I. esse risco não é plausível, o que representa a única vantagem dessa modalidade de crime. A menos que a vítima seja muito carente, ou o seqüestrador muito galante, dificilmente em algumas horas seria possível desenvolver esta síndrome. Não dá nem pra uma rapidinha. Voltando ao assunto da insegurança: Nunca a população fez tanto seguro como nos últimos tempos. De vida, residência, automóvel, moto, lancha. Tem gente fazendo seguro até das próprias pernas, ou dos glúteos. Eu não faço seguro de vida, mesmo. Quem garante que eu vou morrer? Já seguro de automóvel, hoje é difícil achar alguém que não tenha. De fato é constrangedor você encher a traseira de um desses importados que circulam na cidade e dizer: "Não se preocupe, senhor, assim que eu vender minha casa eu conserto sua maldita lanterna traseira!!". Fora ir trabalhar de manhã e seu carro simplesmente não estar onde você o deixou!
- Ei, porteiro, você não viu o meu carro?!
- Ah, claro, está aqui no meu bolso direito! Guardei pra não pegar sereno (gritando). Não me chame de porteiro (sussurrou).
Interessante é que agora as seguradoras, quando atendem um pedido de socorro, levam um lanchinho pra você. E aí fica lá você comendo enquanto eles rebocam o seu carro. "Sr. Eclídio Ludimar, eu sei que o senhor perdeu a reunião de negócios da sua vida, eu sei que o senhor vai ficar sem carro durante duas semanas, andando de ônibus, eu sei que o senhor quebrou dois dentes na batida, eu sei que o carro que o senhor bateu era do seu sogro, e sei também que seu nome é horrível, mas nós trouxemos um PACOTE DE CREAM CRACKER QUE VAI RESOLVER A SUA VIDA, É O FIM DOS SEUS PROBLEMAS!".

Um comentário:

Juliana Faleiro disse...

eles podiam levar umas amostrinhas de perfumes... coisinhas mais úteis... ou pelo menos uma coca light...