Ecologicamente correto

Se tem uma coisa que me emputece é estar na impressora esperando meus papéis e surgir um espírito de porco pra dizer "Nossa! Quanto papel!", "Assassino de árvores!", "Tem impressora em casa, não?", "Papel caí do céu mesmo, né?". Quer saber, se você quer tanto economizar papel e proteger as suas florestas - sim, porque do jeito que fala parece que tem um Pantanal no quintal de casa e eu estou desmatando - é melhor começar a seguir os seguintes passos. Limpe a boca na gola da blusa, ou na parte traseira da gravata, ou carregue um pano de prato particular para os restaurantes. Anote recados na mão. Lista de compras do mercado, no ante-braço. Saia da padaria carregando os pães no colo. Não embrulhe seus presentes, pinte de preto. Diga adeus a confetes, língua-de-sogra, chuvas de papel, festinhas com guardanapos coloridos, dentre outras coisas felizes. Dê graças a Deus que camisinha é de plástico. Se for policial, não multe ninguém. Não chore, sorrie. Se for chorar, deixe a lágrima correr. Esbofeteie panfleteiros, cartunistas, operadores de Xerox e praticantes do Origami. Não faça concursos nem qualquer tipo de prova escrita. Não entregue currículos. Não faça diários, faça blogs. Não mande cartas, nem receba. Se for mandar, escreva na parte de dentro do envelope, nada de folhas extras. Não compre livros, cadernos, revistas, jornais. Compre areia especial pro seu gato, nada de jornal velho. Não receba dinheiro, só moeda. Anote o que o professor fala na carteira. Depois leve a carteira pra casa. Não compre sapatos recheados de papel. Rejeite o cheeseburger se ele vier embrulhado. Não peça bebida no McDonalds, eles não vendem latinha. Não compre bombons. Não entre na justiça. Não masque chicletes ou balas. Só compre sorvete de 2 litros, picolé nem pensar. Não tire senhas nos atendimentos públicos, espere. Infinitamente. Não tire cópias, memorize. Não aceite lista telefônica em casa, e por princípio, nem a consulte. Adivinhe. Crie uma ONG contra álbuns de figurinhas. Dê preferências a produtos sem rótulo. E sem manual. Compre remédios sem prescrição médica. Use a força bruta se necessário, foda-se o farmacêutico. As árvores são mais importantes. Não tire 2ª via de documentos. Não registre seus filhos. Não pregue cartazes, mesmo que informativos. Pixe as paredes. Não exija nota fiscal. Assoe o nariz ao léu. Não peide molhado. Se cagar, limpe com a mão. E se for lavá-la, enxugue na calça. Ou no "toalhão público".