Higiene pessoal

Não sei a quem culpar, se a globalização, se a ciência, a tecnologia, a evolução do ser humano, enfim, o fato é que é cada vez mais complicado decidir qual tipo ou marca de produto devemos levar pra casa.

Você vai ao mercado comprar um sabonete simplesmente porque está precisando lavar as partes íntimas, como qualquer mortal - e imortal também. Mas você se vê obrigado a escolher entre um sabonete com a "Sedução do Chocolate" ou a "Vitalidade do Guaraná". Extrato de Orquídeas Brancas. Se eu quiser passar orquídeas brancas na cara vou até uma floricultura e compro orquídeas brancas! “São para sua esposa?” “ Não, é pra esfregar na minha testa mesmo, você não imagina como hidrata”. O pior é quando o preço é o mesmo, impossível escolher. Isso quando não inventam de colocar vitaminas no sabonete. Por Deus, eu não pretendo, no meu atual estado de sanidade mental, comer o sabonete. E não me importo, do fundo do coração, em nutrir minhas axilas com vitamina C. Sinceramente, tá pra nascer uma axila que consiga ficar gripada. Ainda mais por falta de vitamina C.

E os xampus? Eles oferecem saúde pro meu cabelo. Tanta gente doente, pela hora da morte, e eles desejam saúde pro meu cabelo! Daqui a pouco vão querer vacinar meu cabelo contra sarampo. Sem falar da reflexão que a variedade de xampus nos submete. Na hora de comprar eu tenho que respirar fundo e pensar: Meu cabelo é preto escuro ou preto brilhante? (?!) Droga, o meu cabelo é preto preto, preto. Será que é tão difícil? Se eu quisesse um cabelo brilhante eu pintava de prateado ou jogava purpurina.

Não entendo porque cada cor tem que ter um adjetivo. Preto luminoso (?!), loiro radiante, vermelho sedutor, castanho avassalador, roxo brega. O que não faz sentido também é que todo xampu é enriquecido com alguma coisa que vai deixar seu cabelo forte sem ressecá-lo. Se eu preciso enxaguar o xampu com água como poderia ressecar meus cabelos?! E não faço questão de cabelos fortes, eles servem pra ficar na minha cabeça, não vão disputar nenhum campeonato de halterofilismo.

Até pra escovar os dentes tenho que decidir se quero a máxima refrescância do hortelã ou o impactante frescor do eucalipto. Isso quando eles não resolvem ter uma crise de benevolência e oferecer os dois sabores juntos numa EXPLOSÃO DE DUPLA REFRESCÂNCIA. Se eu fosse acreditar em todos esses jargões eu teria MEDO de botar um negócio desse na minha boca. Afinal, se fosse tão refrescante assim, todos escovariam os dentes só pra espantar o calor. Que ventilador que nada. Mas por via das dúvidas eu prefiro comprar aquelas pastas mais milagrosas: Elas têm um sabor refrescante, combatem as cáries e os germes, são perfeitas pra dentes sensíveis, deixam eles mais brancos, elimina o mau hálito, são ricas em flúor e cálcio, deixam o sorriso radiante, dão sorte no amor e ainda são recomendadas pelos melhores dentistas. Pra que mais que isso? É o auge da perfeição em matéria de produtos industrializados. Aliás, é uma heresia um produto assim tão divino ser industrializado, ser resultado do trabalho humano. Devia dar em árvore.