14 de jun. de 2007

Rádio Temperamental

Não sei se sou só eu ou se é com todo mundo. Mas tenho mania de conversar com meus objetos, principalmente os eletrônicos.


Esses dias o CD Player do meu carro quebrou. Quer dizer, quebrou e não quebrou. Ficou de birra pro meu lado. O fato é que desde então ele só funciona quando quer. Eu aperto o botão e é sempre um mistério se ele vai funcionar ou não.


“O que foi? Não vai ligar hoje não, é? Só porque acordei um pouco mais cedo? Ficou de mau humor? Seu rádio baitola. Coisinha ridícula. Acorda, toca Raul. Vamos, vamos. Você não é de nada mesmo. Ai, 1500 watts? Não me faça rir. Você não é capaz de ensurdecer nem uma velha.”


Depois de uma pausa no “diálogo” e um tempo de silêncio, é só parar no sinal e ouvir ao meu lado um carro com o som bombando que não me seguro e começo outra vez:


“Olha aí, tá vendo? Isso que é som de verdade. Não tem frescura igual uns e outros. Você aperta o botão e ele toca, simples. Não tem que fazer mandinga, tirar o som, colocar o som, limpar, assoprar no encaixe. Isso é coisa de rádio bicha, fresco. Vai ser fresco assim no inferno. Devolve o meu CD pelo menos seu bicha. Vou tocar em outro som. Duvida? Você acha que vou ser fiel a um toca-cd baitola igual você? Eu devia ter te dado uns tapas mais cedo. O problema é que te mimei demais. Quando saia do carro te guardava numa caixinha aquecida, pra ninguém te roubar, sempre tirando a sua poeira. Tudo isso pra quê? Devia ter te deixado ao relento, no frio. Fosse melhor que alguém te levasse, não estaria nesse stress agora. Rádio bicha. Eu vou te dar dois minutos pra começar a tocar. Ai de você. Ousa não ligar, ousa. Vou te trocar na feira do rolo, nem que seja por um walkman usado. Espera só pra você ver, deixa estar, deixa estar”.


O pior é que às vezes eu imagino que eles podem responder. Ora, se eu falo com ele por que ele não pode falar comigo também? Não precisa haver entendimento, do mesmo jeito que eu me expresso inutilmente ele também o pode fazer.


“Meu amigo, hoje não vou funcionar não. Ontem você dirigiu pior do que o de costume. Você já dirige como se tivesse trotando uma égua, pegando todos os buracos, as tartarugas, as imperfeições do asfalto, e hora ou outra ainda belisca o meio-fio. Mas ontem, francamente. Você bebe todas e depois me coloca no último volume – pra não dormir no caminho diga-se de passagem – enquanto dirige feito uma besta por aí. Olha, vou te dizer. Você devia ter comprado um som com Mal de Parkinson, talvez ele se adaptasse mais com seu ritmo de direção. E digo mais, não vou devolver essa porcaria de CD brega que você me fez tocar durante dois meses seguidos. Só por cima do meu cadáver, vai ter que enfiar uma chave de fenda na minha cara!”

Nenhum comentário: