3 de jul. de 2007

Estilo Pizza Hut

Não existe alimento mais frustrante que a ricota. Você está em um buffet razoavelmente elegante, salgadinhos dos tradicionais e dos sofisticados, quando de repente se aproxima uma bandeja suspeita e traiçoeira. Você dá uma encarada naqueles pãezinhos gordinhos, dá uma analisada no volume e conclui que ali deve haver muito recheio. Sua boca já cheia d’água, sua língua inquieta umedece os lábios secos. Automaticamente você começa a imaginar salsicha, lingüiça, queijo e presunto, frango com catupiry, etc. Você pergunta ao garçom do que se trata e ele, assim como todos os outros, responde em uma linguagem e com tom de voz quase sempre incompreensíveis. Você arrisca. Ao morder no meio o rechonchudo quitute, antes mesmo de tirar o que sobrou da boca para analisar seu conteúdo, já enruga a testa e revela no olhar toda a decepção que lhe abateu.

“Quem foi o imbecil que enfiou ricota nesses salgados? Por que não colocaram uma placa de perigo na testa desse garçom bandido? O que aconteceu com o presunto? Com o frango? A carne seca? Será que todos os bois, porcos e aves se rebelaram e organizaram um motim nas fazendas? É isso que justifica eu estar com ricota impregnando as frestas dos meus dentes?!”

Não precisa ser necessariamente um elegante buffet. Você está em um rodízio de massas agora. Eis que lhe é oferecida uma linda lasanha, suculenta, a mussarela por cima borbulha como quem diz “coma-me, coma-me muito”. E aí você, enganado, iludido, pede ao garçom que lhe sirva uma porção. É quando, distraído pela conversa que se dá na mesa, parte um pedaço daquela lasanha e sem verificá-lo leva a boca. Grande erro. Novamente sente falta de um presunto, frango, ou qualquer coisa que não fosse aquela pasta seca, insossa, e de textura intragável. A única explicação plausível pra isso acontecer é a seguinte:

- Chefe, acabou o presunto.
- E o frango?
-
Também. E a lingüiça, o salame, a carne moída, o espinafre, a banana, e até o jiló.
-
Então põe ricota. Danem-se.

E já que falei, outra coisa frustrante é o rodízio. De qualquer coisa. A gente sempre é derrotado pela comida. Não existe aquele momento que estouram fogos de artifício, piscam as luzes e gritam: “Você venceu! A Comida acabou, você é o mais novo campeão do Rodízio de Pizza do Restaurante Comilão!” O que existe é sempre uma cara de bunda sobre a mesa, com olhos imóveis encarando aquelas casquinhas da pizza que ninguém come, algumas cebolas, azeitonas e pimentões, além de um pedaço inteiro de pizza de ricota que foi renegado.

Pra tripudiar sobre sua derrota os garçons passam insistentemente te oferecendo mais e mais pizza. “Chocolate com banana, o senhor aceita?”, “Pizza de hot-dog”, “Manjericão com tomate seco”, “O senhor ‘frouxo em pessoa’ aceita calabresa apimentada?”

Chega um determinado momento que a impiedade dos garçons chega ao ápice, é quando eles olham pra sua cara, com um sorriso sarcástico no canto da boca e perguntam: “O senhor está satisfeito ou deseja algum pedaço especial?” Na verdade o que eles estão pensando é: “Meu amigo, eu tenho pena de você. Você vai ficar aí se lamentando ou vai dar lugar a outro competidor? Você é ridículo, não conseguiu chegar nem na pizza de palmito, deixou metade do nhoque no prato, e ainda põe a culpa no chopp, foi ele que te encheu, não foi? Você é lastimável. Não se atreva a voltar aqui nunca mais, dá próxima vez desafie um à la carte. O seu lugar é na Pizza Hut”.

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